No Colégio ninguém era mais querida do que a professora Alícia. Com sua risada fácil e olhos que sempre brilhavam, ela ensinava português e matemática e ensinava, às crianças, também, a ver a vida com o coração.
A manhã ensolarada e o cheiro de pão de queijo tomava conta da escola. As crianças corriam pelo corredor, mas foi na sala da professora Alícia que a aventura realmente começou.
— Bom dia, pessoal! — disse Alícia, ajeitando os cartazes na lousa. — Hoje tenho um segredo pra contar.
As crianças se entreolharam, curiosas.
— Oba, segredo! — exclamou Augusto, já pegando seu caderno.
— Não é todo dia que isso acontece — cochichou Sayuri, com seus olhinhos puxados!
— Preparem-se: a missão de hoje é… descobrir o maior superpoder do mundo! — anunciou Alícia, balançando as mãos no ar como se fosse uma heroína moderna.
Sayuri deu uma risadinha, Leandro arregalou os olhos, Carina mordeu a pontinha da borracha e Augusto quase caiu da cadeira.
— Superpoder? Qual? — quis saber Leandro.
— O poder da gratidão. E, para completar, faremos uma surpresa para Mães usando esse superpoder!
As crianças franziram o cenho.
— Gratidão parece nome de perfume da minha avó — cochichou Leandro.
— Ou de um remédio — completou Augusto.
Alícia sorriu.
— Imagina se a gratidão fosse uma mochila invisível que todos carregam. Quando você agradece, coloca presentes dentro dela, para você e para os outros. Alguém gostaria de experimentar esse superpoder hoje?
Todos levantaram a mão.
Lá fora a rotina no Colégio parecia a mesma: lanche compartilhado, roda de leitura, risadas e pequenas confusões. Mas, cada um dos quatro tinha um motivo especial para pensar nas mães e o quanto eram gratos a elas.
— Minha mãe faz o melhor yakisoba do mundo, mas diz que receita boa é segredo de família— comentou Sayuri, desenhando uma tigela fumegante.
— Eu vivo bagunçando meu quarto e, ainda assim, minha mãe me chama de ‘seu campeão’ — disse Leandro, rindo.
— Mamãe fica triste quando chego tarde, mas sempre está lá, sorrindo — disse Carina, baixinho.
— Minha mãe me ajuda com as contas de matemática e me deixa ser curioso, mas nunca reclama quando pergunto demais — acrescentou Augusto.
Nesse clima de confidências, Alícia lançou a missão:
— Vocês vão fazer um presente especial de gratidão para suas mães. Só que não é algo pra comprar, hein! Tem que ser criado com o coração.
— Mas… como fazer um presente com gratidão? — perguntou Augusto.
— Com um ingrediente mágico: lembranças.
Nesse momento a campainha tocou e a diretora entrou, com um cartaz chamativo: “Concurso Surpresa para as Mães”. O prêmio: um café da manhã especial para todas as mães da turma vencedora.
As crianças ficaram empolgadas, mas Leandro logo caiu na real:
— Mas nossa turma nunca ganha nada… Sempre dizemos que vamos fazer, mas algo dá errado.
Alícia encarou cada um com doçura:
— Nada está perdido! A gratidão vai ser nosso diferencial. Pensem: quem dá o melhor presente é quem coloca mais coração nisso.
O desafio foi lançado! Eles tinham cinco dias para criar um presente coletivo que representasse gratidão — algo que pudesse ser entendido por todas as mães, mesmo quem não era tão boa de ler, como a avó de Leandro, ou quem falava pouco português, como a mãe da Sayuri.
— E se a gente escrevesse cartas? — sugeriu Carina
— Ou pode ser música! — propôs Leandro.
— Mas eu sou desafinada igual buzina de carro — respondeu Sayuri.
Alícia parou, pensando. Puxou da prateleira um quebra-cabeça colorido.
— Já pensaram que a gratidão é como um quebra-cabeça? Cada pedaço é uma lembrança, mas se juntarmos vira uma história só!
No mesmo instante, os quatro entenderam: vamos criar um mural dos pedaços de gratidão!
O grupo começou a trabalhar. Para cada dia, uma tarefa: coletar lembranças, desenhar, escrever, pintar, compor.
Logo vieram os problemas: Leandro esqueceu os desenhos em casa.
Sayuri brigou com a mãe e sentiu vergonha de agradecer. Carina ficou envergonhada com sua letra torta. Augusto não conseguia resumir em poucas palavras tanta coisa para agradecer.
Alícia percebendo o clima, sentou com eles no pátio, sob as árvores.
— Sabem quando tentamos montar um quebra-cabeça e as peças parecem não encaixar? Às vezes, precisamos olhar de outro ângulo. Gratidão não precisa ser perfeita, só precisa ser verdadeira.
As crianças começaram a rir, contando trapalhadas e histórias engraçadas. Leandro lembrou quando colocou açúcar no arroz por engano e, mesmo assim, a mãe comeu sorrindo. Sayuri contou sobre o dia em que fez um cartão com corações tortos, mas sua mãe disse que nunca ganhou nada tão bonito. Não demorou e todos estavam rindo e se sentindo melhor.
Na manhã seguinte, cada um trouxe algo importante:
Leandro, um desenho dele e da mãe pulando na poça de chuva.
Sayuri, um minipoema: “Gratidão é abraço que não acaba”.
Carina, uma foto antiga dela com a mãe e avó, colada em papel colorido.
Augusto, um origami em forma de estrela, com “Obrigado, mãe” em várias línguas.
Juntos, montaram um mural gigante, cada peça representando uma forma de gratidão.
Quando tudo parecia pronto, Augusto levantou a dúvida:
— E se nenhuma mãe entender nosso mural? E se acharem… bobo?
Um silêncio pesou. Carina falou baixinho:
— Gratidão não tem número certo de “curtidas”. É pra sentir, não mostrar.
Mas ainda assim as dúvidas persistiram. Alícia então contou uma história de quando era criança e tinha medo de que seus cartões pra mãe fossem feios. Mas, anos depois, a mãe dela mostrou todos os cartões guardados, um a um.
— Não era o papel, eram as lembranças. E esse é o segredo da gratidão: ela volta pra gente, maior do que saiu.
No grande dia, o mural foi montado no salão da escola. Mães, avós, tias e famílias começaram a chegar. Nervosos, os quatro sentiram um frio na barriga. Um raio de sol iluminou o mural justo onde estava o desenho de Leandro. Ele quase chorou.
A turma rival chegou com presentes sofisticados: caixas brilhantes, lembrancinhas personalizadas, até um vídeo editado profissionalmente.
Os quatro ficaram desanimados. Augusto queria sumir.
— Nosso mural vai parecer bobo mesmo… — ele lamentou.
— Não se preocupa, Augusto, o que importa é o que colocamos nele — disse Carina.
Alícia chamou todos:
— Crianças, quem quer explicar o mural da nossa turma?
Todos olharam uns para os outros. Por fim, Augusto respirou fundo e, trêmulo, começou:
— Esse mural… somos nós. Cada pedaço é um agradecimento verdadeiro. Às vezes, a gente esquece de dizer obrigado, mas hoje queremos que todas as mães saibam: cada dia com vocês é uma peça bonita na nossa vida.
Logo, os outros completaram, cada um dizendo uma pequena frase de coração.
No salão, algumas mães choraram, outras sorriram, todas bateram palmas. Uma senhora abraçou Sayuri e disse, com dificuldade no português:
— Entendi te quero, filha.
O mural virou atração. Quem olhava, encontrava uma lembrança que parecia sua. A diretora, emocionada, anunciou:
— O prêmio vai para a turma da professora Alícia, por lembrar que o melhor presente para uma mãe é saber que seu amor constrói lembranças inesquecíveis.
Os quatro amigos nunca mais esqueceram do que era gratidão. Não precisavam de datas especiais para agradecer; diariamente, passaram a notar os pequenos gestos, como o bilhete na lancheira, o beijo de boa-noite, a risada depois do banho. Leandro começou a agradecer de verdade, Carina fez mais desenhos para sua mãe, Sayuri perdeu o medo de mostrar seus sentimentos, Augusto passou a criar “estrelas de gratidão” em origami para todas as pessoas queridas.
E Alícia, a professora que começou tudo, sabia que o superpoder da gratidão tinha mesmo contagiado a todos.
Atividades Sugeridas
8 anos: Desenho da Gratidão: Cada criança deve desenhar a lembrança mais feliz com sua mãe ou cuidadora, explicando em poucas palavras porque é grata por esse momento.
9 anos: Bilhete Secreto: Escrever um bilhetinho de agradecimento para a mãe/figura materna e escondê-lo em um lugar especial (na bolsa, no travesseiro etc.), para que ela encontre como uma surpresa.
10 anos: Caixa das Memórias: Montar uma pequena caixa (feito com material reciclável) e colocar dentro objetos pequenos ou papéis escritos com momentos em que a mãe ajudou, cuidou ou fez algo especial, explicando o sentimento de gratidão para cada objeto.
11 anos:Árvore da Gratidão: Fazer um desenho de árvore em papel e, nas folhas, escrever palavras ou frases que representem os diferentes motivos de gratidão por sua mãe. Depois, apresentar para a família.
12 anos: História Compartilhada: Escrever (ou gravar em áudio ou vídeo) uma breve história contando um desafio que passou e como a mãe ajudou a superar, refletindo sobre a importância da gratidão nesses momentos. Pode ser apresentada em sala ou compartilhada com a família.